domingo, 12 de outubro de 2008

UM EXORCISTA NO BANCO CENTRAL

Salvador Sícoli Filho – 03/10/08


Se o pânico veio à tona agora depois de mais de ano sendo toldado por nuvens negras desconhecidas pelo Banco Central, foi por motivos mais reais que os fantasmas de inflação sempre apregoados pelo Banco Central para aumentar a taxa de juros: o escandaloso mecanismo sem supervisão dos títulos colaterais que se propagaram pelo mundo.

Quando a corrente da felicidade quebrou um de seus elos rompeu-se também o paradigma da imprescindível confiabilidade do sistema.

Enquanto fermentava lá fora a crise descomunal, o nosso Banco Central, cativo do sistema bancário, continuou a aumentar temerariamente a taxa básica de juros sob o esfarrapado pretexto de manter no centro da meta uma inflação transitória urdida pelo vetor exógeno e volátil de commodities prestes a retroceder.

Aumentou inutilmente as taxas para manter acesas as velas para iluminar a entrada de especuladores em busca de ganhos rápidos. Postergou-se a dívida e a vulnerabilidade foi ocultada por reservas em moeda duvidosa.

Mas quando a borrasca, anunciada com pompa e circunstância, despejou sua tormenta de quebras no sistema financeiro mundial impactando e restringindo a antiga fonte fácil de recursos e liquidez, a permanência do BC no engodo de aumentar as taxas básicas passou dos limites de tolerância. Todos os BCs do mundo estão retrocedendo em desespero as taxas de juro de maneira a tentar ressuscitar seus defuntos sistemas.

No pânico não se retém investidor algum por meras altas taxas de juros de países sem cacife. O país tem US$ 207 bilhões de reservas em uma moeda potencialmente sujeita ao descrédito no planeta. No mundo giram US$ 15 trilhões só em títulos colaterizados vinculados à bolha do sub-prime. US$ 850 bilhões serão suficientes apenas para manter sub-judice a tenda de oxigênio para gigantes de pés de barro.

Na casa, a inflação real recua em cinco de grandes capitais no país.
Se, se brecar o crescimento - conseguido, aliás, por fatores também exógenos e não mercê de nossas façanhas governamentais - dar-se-á um passo para o mesmo despenhadeiro em que se embrenham outrora poderosas economias.

Se não é caso de polícia a taxa de juros do nosso BC, é sem dúvida motivo para a convocação de um exorcista e de um analista.

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