domingo, 26 de julho de 2009

Menos US$ 26 bi em Investimentos em Siderurgia

Siderurgia: Grandes projetos no país são cancelados, suspensos e adiados por Baoesteel, Usiminas, CSN e Gerdau

Crise afeta investimentos de R$ 53 bilhões

Vera Saavedra Durão e Sérgio Bueno, do Rio e Porto Alegre - 24/07/2009


Os investimentos na siderurgia brasileira encolheram fortemente com a crise econômica que retraiu a demanda por aço em todo o mundo. Três grandes projetos foram suspensos e adiados, um cancelado e um quinto ainda encontra-se sem definição. O montante previsto para esta carteira de obras era da ordem de R$ 53 bilhões conforme anúncio feito pelas empresas e projetos encaminhados ao BNDES para financiamento.

O primeiro grande projeto afetado pela crise foi o da Companhia Siderúrgica de Vitória (CSV), uma parceria entre a chinesa Baosteel e a Vale. Previa produzir 5 milhões de toneladas de placas de aço na região industrial de Ubu, em Anchieta (ES). O valor do investimento era da ordem de R$ 10 bilhões. A decisão de cancelamento foi tomada pelos sócios em janeiro, no auge da crise global. Na ocasião, Vale e Baosteel atribuíram a desistência do projeto também às dificuldades de atender as exigências ambientais colocadas pelo governo capixaba, que queria sua transferência para outro município.

Ontem, a Usiminas comunicou ao mercado a suspensão do projeto de construção de uma nova usina no município de Santana do Paraíso (MG), que estava orçado em cerca de R$ 12 bilhões. Só deverá ser retomado, segundo o conselho de administração da empresa, quando "os fundamentos do mercado confirmem a recuperação do crescimento sustentável da demanda". Os acionistas da siderúrgica, que tomaram a decisão em consenso, estavam ontem bastante aliviados, informou um de seus representantes. "Foi uma decisão prudente frente à crise", afirmou.

Para o professor de economia da Universidade Federal de Uberlândia, Germano Mendes de Paula, seria estranho se a Usiminas anunciasse que ia tocar o projeto em ritmo acelerado. "A medida é coerente com o cenário de incerteza e as formas como as siderúrgicas lidam com isso é distinta. Umas falam em suspender seus projetos, outras em adiá-los e outras que estão analisando". Para ele, não há clareza sobre o poder de sustentação da demanda por aço. "O pior já passou, mas o setor ainda está de ressaca". O economista não afasta, porém, a possibilidade de uma onda de fusões e aquisições no setor após a crise, o que pode adiar por mais algum tempo a retomada de novos projetos de investimentos.

A Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) também adiou sem data os planos de construção de duas usinas. Uma em Congonhas (MG), perto da sua mina de ferro Casa de Pedra e outra em Itaguaí (RJ). Os investimentos em cada uma eram estimados em R$ 12 bilhões, com capacidade em torno de 5 milhões de toneladas em cada projeto.

O grupo Gerdau também trabalhava com a perspectiva de instalação de mais um alto-forno na controlada Açominas, de Ouro Branco (MG). O projeto alto-forno III programava a ampliação da capacidade 4,5 para 7 milhões de toneladas de aço bruto voltada para fabricação de aço longo e plano (placas).

Todo este processo de engavetamento de projetos levou o BNDES a reprogramar seu fluxo de desembolso para o setor. No ano passado, o banco trabalhava com perspectiva de liberar R$ 55 bilhões em projetos que sairiam do papel entre 2008 a 2011 e que acrescentariam mais 14 milhões de toneladas de aço no país às atuais 41 milhões de toneladas. Agora, o banco prevê desembolsar R$ 32 bilhões entre 2009 e 2012 para o setor, gerando adicional de produção no máximo de 10 milhões de toneladas.

O analista Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, avalia que no curto prazo a Usiminas agiu corretamente ao suspender a nova usina. "Certamente, eles vão recalcular todo o projeto, mas acho difícil que a Usiminas desista dele". Ferraz diz que as usinas de aço do país têm que tomar cuidado com esta história de que não vão mais fazer projetos de expansão e novas usinas porque o mercado está ruim. "Quando o mercado retomar, alguém vai fazer no lugar delas".

O BNDES acredita na retomada em breve de pelo menos três grandes projetos adiados, pois desenha um cenário de retomada do mercado de aço até 2015, quando avalia que o país terá que contar com uma capacidade instalada de pelo menos 65 milhões de toneladas de aço bruto, para não perder sua competitividade no exterior.

Se CSN e Usiminas não estiverem dispostas a retomar seus projetos, há outros, como o de Pecém, no Ceará, da Vale com a coreana Dongkuk, do qual o banco pode até participar se for necessário. A ideia é produzir em duas etapas 6 milhões de toneladas de placas. Há ainda o projeto da Vale em Marabá (PA), cuja pedra fundamental está prevista para ser lançada em agosto e ficar pronto até 2013.

Rafael Weber, da Geração Futuro, acredita que os projetos que têm a Vale como empreendedora dificilmente deixam de ir à frente, como é o caso da usina ThyssenKrupp, no Rio. "Ao aportar mais recursos e ampliar sua participação de 10% para 26,7%, a Vale reiterou sua intenção de dar continuidade ao projeto. Com sua visão de longo prazo a mineradora não trabalha para cancelar projetos", destacou.

A grande surpresa neste ambiente ainda nebuloso é a possível chegada da Wuhan, a terceira maior grupo de aço da China. Anunciou pretensão de fazer uma usina no terminal portuário do Açu, de Eike Batista.

Em nota, a Gerdau informou ontem que "não há projetos cancelados dentro dos já comunicados". Mas, segundo a empresa, o cronograma de implantação depende da evolução da demanda por aço nos respectivos mercados. "O plano de investimentos da Gerdau para os próximos cinco anos (2009 a 2013) é de US$ 3,6 bilhões e está sujeito à evolução das condições econômicas futuras", informou.

Entre os projetos anunciados pelo grupo antes do estouro da crise econômica em setembro de 2008 estava a ampliação da capacidade da Açominas de 4,5 milhões para 5 milhões de toneladas/ano de aço, além da instalação de um laminador de chapas grossas e de um laminador de perfis médios no mesmo local, aptos a fazer 870 mil e 650 mil toneladas, respectivamente, por ano. Todos deveriam entrar em operação em 2010.

Esse pacote da Açominas somava US$ 1 bilhão em investimentos, mas a crise esfriou os ânimos do grupo. Em dezembro, o alto-forno responsável por dois terços da produção da usina foi paralisado para reformas e só voltou a operar no início deste mês, "em razão da melhora gradual da demanda no mercado interno e mundial", segundo informou a Gerdau. Ao mesmo tempo, porém, o segundo alto-forno, com capacidade para 1,5 milhão de toneladas por ano, foi paralisado desde o dia 20 sem prazo pré-determinado par voltar a funcionar.

Os projetos incluíam ainda a construção de uma nova usina para a produção de vergalhões para a construção civil em Pernambuco, onde a Gerdau já tem a siderúrgica Açonorte, que faz 300 mil toneladas. Conforme anúncio em agosto de 2008, a nova usina custaria US$ 400 milhões para produzir 500 mil toneladas e ficaria pronta em 2011. Poderia, numa outra fase ser duplicada.

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