domingo, 26 de julho de 2009

Minério sai do chão e preço sobe

Siderurgia chinesa paga mais por minério de ferro

Shai Oster, The Wall Street Journal,de Pequim - 22/07/2009

A decisão da China de fincar o pé à espera de preços mais baixos para o minério de ferro nas negociações com as maiores mineradoras mundiais está obrigando suas siderúrgicas a pagar muito mais pela commodity do que concorrentes ao redor do mundo.

O aumento da demanda na própria China, mais os abalos causados pela prisão de quatro executivos da mineradora anglo-australiana Rio Tinto PLC no país determinada pelo governo, ajudaram a fazer com que o minério de ferro no mercado à vista superasse US$ 90 por tonelada. É o nível mais alto desde o ano passado, segundo a consultora Mysteel, especializada no setor siderúrgico, e cerca de 20% mais alto que os contratos de longo prazo assinados este ano por compradores japoneses, coreanos e europeus.

Segunda-feira, no fim da tarde, a Vale S.A. informou que fez acordo com a siderúrgica alemã ThyssenKrupp AG com preços semelhantes para seus contratos - cerca de um terço menores do que os do preços do ano passado, em média - aumentando o isolamento da China na rodada de negociações deste ano. A mineradora sediada no Rio já havia concluído negociações com outras siderúrgicas no mesmo parâmetro global que a China até agora se recusa a aceitar.

A Associação Chinesa do Ferro e do Aço, que lidera o lado chinês das negociações com as mineradoras, informou que as discussões sobre os contratos estão prosseguindo. Mas as perspectivas para as discussões deste ano, que não terminaram até o prazo limite de 30 de junho, têm sido prejudicadas desde então pela acusação feita pela China de que executivos da Rio Tinto se valeram de subornos para conseguir "segredos de Estado" relativos às negociações sobre o preço do minério de ferro. A Rio Tinto era a principal negociadora do lado das mineradoras.

Segundo analistas, as prisões - juntamente com as a especulação feitas por traders de minérios de que a Rio Tinto parou de enviar ferro para a China - ajudaram a elevar os preços. A Rio Tinto nega as acusações contra seus funcionários e afirma que continua a despachar minério de ferro para a China.

A China importou 297 milhões de toneladas de ferro no primeiro semestre, quase 30% a mais que no mesmo período do ano passado. Sem contratos de longo prazo, as siderúrgicas chinesas precisam comprar mais minério no mercado à vista, sem os descontos. Isso, por sua vez, encarece ainda mais a commodity no mercado à vista.

"Se segredos essenciais do setor vazaram ou não, isso também não tem muita importância, pois não é segredo que a insaciável demanda chinesa por crescimento continuará a alimentar sua demanda sempre crescente de minério de ferro", diz Ren Xianfang, uma analista da IHS Global Insight, consultora especializada em commodities. Ren acrescentou: "Só esse fato já vai prejudicar o poder de barganha da China em qualquer negociação relativa a recursos."

O governo chinês não tem comentado muito sobre o caso dos executivos da Rio Tinto desde a prisão de Stern Hu, um cidadão australiano, e três colegas chineses da mineradora.

Pessoas informadas sobre as negociações anuais dizem que muitas das informações mais úteis para as mineradoras incluem dados sobre preços do aço, estoques e lucros corporativos. Todos esses dados são revelados publicamente, ou disponíveis por meios legais.

O caso pode envolver informações corporativas que ainda não foram reveladas em público; ou talvez os executivos da Rio Tinto podem ter reunido uma tal quantidade de dados a ponto de alarmar as autoridades.

"Há muitos dados que as mineradoras adorariam saber. É o tipo de coisa que se consegue bebendo com pessoas até tarde da noite, criando boas relações de trabalho", diz Alan Heap, analista especializado em ferro do Citigroup Inc. Mas, diz ele, "é diferente na China, onde essas coisas podem ser segredos de Estado".

Hu estava encarregado do setor de minério de ferro da Rio Tinto na China, e supervisionava as vendas da commodity para siderúrgicas chinesas. A questão principal, para a Rio e outras mineradoras, seria avaliar a futura demanda chinesa.

Segundo analistas, as mineradoras poderiam ter tido uma boa indicação de que a demanda aumentaria em resultado do pacote de estímulo econômico do governo chinês, de US$ 585 bilhões, que inclui cerca de US$ 220 bilhões em investimentos em estradas, pontes e outras obras de infraestrutura.

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