domingo, 12 de outubro de 2008

O MINORITÁRIO E A TROCA DE CONTROLE DA ARACRUZ.


PARTE II

Salvador Sícoli Filho -31/08/08

A VCP ofereceu R$ 2.7 bi por 28% do capital votante da Aracruz em mãos do grupo Lorentzen. Ou seja, todo o capital votante com base no mesmo valor corresponderia a cerca de R$ 9,6 bi.

Se o BNDES possui cerca de 12.6% do capital votante, sua participação valeria, aos mesmos valores por ação, algo em torno de R$ 1.21 bi.

Assim as ações ordinárias em circulação no mercado se reduzem 3.4 % aproximadamente do capital votante. Um valor de R$ 328 milhões. Se se considerar um tag along de 80% o valor seria remetido a pouco mais de R$ 262 milhões.

O BNDES já aportou bilhões ao setor de Papel e Celulose e particularmente ao setor de Celulose a partir da década de 70. À polêmica e pioneira fábrica da Borregaard às margens do Guaíba que com seu cheiro de ovo podre - sulfito - do processo químico incomodava os porto-alegrenses, seguiram-s então as simultâneas implantações da Cenibra em Belo Oriente - MG, associação da VALE com o grupo japonês JBP, e a Aracruz em Barra do Riacho no ES.

Nada mais justo que hoje, maturados os seus investimentos no setor, o BNDES, tão carente de recursos para financiar outros setores, recolha agora o produto de seu investimento reforçando seu funding para novos projetos, através do mesmo preço arbitrado pela VCP para aquisição da parcela do grupo Lorentzen e do grupo Safra. (que provavelmente fará fazer valer seu direito com a opção de venda).

Se num arroubo de paternalismo de estado resolver abrir mão dessa prerrogativa legal e amparada pela legislação, o BNDES deverá ter o aval de seu acionista majoritário, o Governo.

Mas a VCP imputar aos minoritários, muitos dos quais estrangeiros, os devaneios jurídicos sem nexo legal de sua frágil argumentação será golpear mortalmente a sua credibilidade como grupo corporativo.

Teimando em afrontar legislação num momento inclusive em que os ADRs da Aracruz e suas ações negociadas na NYSE fazem parte do Sustainablility Índex - ISDJ - será além de exercício abusivo de coerção aos minoritários, um claro atentado aos compromissos assumidos e mantidos galhardamente pela empresa que mais cedo ou mais tarde terá de incorporar.

Ou alguém em sã consciência imagina que após uma inverossímil concretização dessa aberração o grupo VCP teria credibilidade para continuar a negociar ações nas hoje castigadas bolsas mundiais?

O grupo VCP se vier a recusar fazer por meros R$ 300 milhões uma oferta em dinheiro aos minoritários poderá estar manchando indelevelmente a sua reputação como um dos ícones do que de mais pujante existe entre os grandes grupos empresariais brasileiros.

Quanto ao BNDES espera-se que tenha inventividade suficiente para dimensionar o tamanho da encrenca em que se envolve no presente imbróglio e da sua grande responsabilidade caso opte por ficar à margem da linha de defesa dos minoritários.

No presente caso e pelos antecedentes do grupo Votorantim quando fez oferta na década passada aos acionistas de suas empresas de cimento, não há que se cogitar sejam os minoritários acuados com propostas de permuta de ações da VCP. Este expediente seria anulado pela tradição do grupo de não disponibilizar ações ordinárias em Bolsa. Ou alguém já deparou com algum negócio com ações “on” da VCP?

Este esquema de varrer o minoritário para baixo do tapete só não foi ainda oficializado pela presença do BNDES entre seus acionistas.

Com seu anúncio intempestivo o grupo VCP já provocou queda instantânea de cerca de 30% no valor das ações ordinárias da Aracruz. Em menos de um mês seus ADRs em ações preferenciais perderam quase igual percentual.

Como todo lucro do BNDES no primeiro semestre pode ser atribuído ao lucro de sua carteira de ações na BNDESPAR, para que este resultado não esmaeça seria importante um posicionamento adequado da instituição no caso da troca de controle da Aracruz e antes que efeitos combinados comprometam de vez os esforços de anos a fio para se erguer um exemplar mercado de capitais no Brasil.

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