segunda-feira, 13 de outubro de 2008

CARTA A MARIA CLARA DO PRADO


em 9/10/08, Cara Maria Clara,

Muito bom o seu artigo as "Fábricas que viraram pó".

Sobretudo como engenheiro financista, consultor de empresas e especialista em mercado de capitais e conhecedor das práticas de operações complexas de derivativos, esse arsenal de instrumentos que acabou complicando o mundo, causou-me espécie a afoiteza com que diretores financeiros de empresas de primeira linha no setor de exportação atuaram. (lembro que meu primeiro artigo sobre a crise financeira do sub-prime e a antevisão de sua conseqüências sobre o mercado financeiro foi publicada em 25/08/07
no JB)

Seu artigo, por situar-se no plano da teoria, toca de leve na gravidade como pecam alguns jornalistas e jornais brasileiros.

Têm medo de colocar o dedo na ferida.

E faltam-nos jornalistas ou redatores investigativos

O caso da Aracruz - que vem sendo objeto de vários artigos meus - alguns publicados, outros não - chega ao ponto do escabroso.

E tudo começou a partir da intenção do grupo Votorantim de, a partir de um problema familiar do grupo Lorentzen, fazer uma montagem de operação de aquisição sim do controle por um modelo execrável e que afastaria os pequenos acionistas e o BNDES (outro omisso do processo : até hoje não entendi a lerdeza do sr. Luciano Coutinho à frente desta outrora importante instituição - a não ser por razões que não se vale a pena aqui citar)

Não se pode em nenhuma hipótese admitir a eterna ausência da CVM na investigação de casos como esses.Esta só se preocupa em apanhar desprevenidos pequenos atores atores do mercado deixando de lado as mazelas das empresas. Cite-se aqui a falta de responsabilidade na mesma nas emissões de ações de empresas que abriram o capital recentemente.
Irresponsabilidade maior não poderia ser dimensionada pelos prejuízos que causou a neófitos inversores.

Não se pode admitir que o BNDES não exija o que os pequenos acionistas não vêem obtendo da Aracruz:
um relato completo de cada operação efetivada, o montante e a data de vencimento de cada uma. Por que estas operações não foram encerradas antecipadamente. (isto porque não se pode admitir que um diretor financeiro medianamente dotada não tenha uma visão de mercado macro do que se vinha toldando no ambiente há quase dois anos). Quem não previu em seu cenário uma inversão do câmbio burlescamente mantido pela estupidez do governo e seu ufanismo barato de gaiato trombeteador de vantagens e o esquema de manter juros altos para garantir não a formação de reservas, mas a de manter funcionado o cassino para que recursos fáceis e baratos continuassem a adentrar o país etc, não é administrador financeiro´.
É especulador estovado e que iria certamente dar com os burros n´água.

E se este administrador temerário, que não pode ser tão burro assim, e pelo contrário, pode ser um esperto aventureiro acoplado a uma contraparte bancária pronta para repartir parte de seu lucro de ganhadora numa aposta previamente estabelecida?

Quem são as contrapartes das operações "estranhas" da Aracruz?

Por que ao menor sinal de mudança do câmbio não inverteu as operações?

Há algo de podre no reino da Noruega...

Por que o Banco Safra abriu mão de vender sua parte na Aracruz como previa o pseudo acordo de acionistas da empresa? ( pseudo, por que estava vencido).

Bom, me desculpe a rudeza das palavras minha querida Maria Clara.

Quando lá pelos idos de 2002 (desculpe-me, a madrugada tolhe-me a lembrança das datas) estourou o escândalo de uma das maiores empresas americanas, a Enron, o massacre da exatidão da imprensa colocou todos os pingos nos is.
Aqui vamos ajeitando e temos a covarde maneira de ajeitar as coisas.

O caso da Aracruz é gravíssimo.
E já escrevi mais de uma dezena de alertas sobre o assunto e seus desdobramentos.
Alguns desses artigos foram republicados no exterior.

O que era a primeira empresa a entregar balanços, a maior empresa produtora de celulose de fibra curta do mundo, a primeira empresa brasileira a entrar na bolsa de Nova York - a Nyse, e igualmente a primeira a pertencer ao Sustainability Indexes do DJ, comportou-se como uma empresa fechada e mesquinha como sói acontece com o seu novo futuro proprietário.

Teve a perda correspondente a US$ 1 bi - se é que é isto mesmo já que pela descrição que recebi da empresa em comunicado de23hs58 de 25/09/08 ela não havia quantificado as perdas e em 2//10 quantficou R$ 1,950 bi mas deixou uma tremenda dúvida em quanto ao não fechamento das operações. Como disse também que - às pressas te tardiamente torna-se claro pelo valor contratado de R$1,91 - que tinha uma posição comprada de R$ 548 milhões, não se pode atestar o que fez a não explicitada consultoria de que disse ter contratada para auditar as operações.

Assim, repito, há um mopnte de sombras no ar.

Pelos preços correntes para implantações de indústria de celulose, a Aracruz conseguiu]realmente perdeu o correspondente a uma fábrica de celulose com capacidade para 700 mil/ton/ano. Ou seja, praticamente o que deveria investir em uma das duas unidades previstas para Minas Gerais em Governador Valadares.

O caso é longo e o sono me derruba.

Continuo como sempre seu admirador pelos belíssimos artigos que você escreve.
Mas abalado pelas mediocridades qe nos governam resolvi lhe enviar esse material.

E com saudades da famosa coluna sua do meio da semana na página A2 da velha Gazeta Mercantil, ( e onde o saudoso Dr. Herbert Levy certa vez me concedeu escrever).

Por fim parabéns pela sua didática correta na abordagem dos derivativos que fizeram ruir alguns mitos e ícones empresariais pelo mundo.

Salvador Sícoli Filho

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