quinta-feira, 11 de junho de 2009

BARREIRAS CONTRA A INVASÃO CHINESA E A MEDIOCRIDADE NA ADMINISTRAÇÃO DA CRISE

BARREIRAS CONTRA A INVASÃO CHINESA E A MEDIOCRIDADE
NA ADMINISTRAÇÃO DA CRISE

Salvador Sícoli Filho – 05/06/09

Os australianos brecam a invasão chinesa, enquanto no Brasil vamos comprando quinquilharias e equipamentos sem controle de qualidade e feitos com materiais de segunda.


No bojo de uma crise econômica sem precedentes, o protecionismo no comércio exterior parece se alastrar como anteparo ao vácuo criado pela grande neutralização da demanda mundial por todo tipo de produto.

Mas o Brasil, e seus comandantes deitados em berço esplêndido, continua a navegar sempre a reboque dos acontecimentos.

Desde a concepção da marolinha teimam em deslocar o eixo das preocupações na falácia de teses sem consistência como a imunidade à crise.

Enquanto nossos grandes exportadores esbarram e tropeçam nas vendas contra o gigante chinês, vamos trafegando na contramão do mundo e cedendo espaço para as espertas arremetidas dos sino negociadores.

Que em esperta visão puseram US$10 bilhões no pires passado pelas cambaleantes
finanças da nossa maior empresa, mui digna merecedora de um atenta auditoria para verificar-se as razões do esfacelamento de seu sempre prodigioso circulante.

A Vale não consegue acertar o nível de suas vendas com aquele país. Enquanto vende minério de menor valor, suas usinas de pelotas que propiciam aços de melhor qualidade, repousam desativadas em Vitória, São Luís, Minas Gerais gerando inquietação, demissões e cortes nos investimentos.
O chinês não persegue qualidade. Atrai-lhe o baixo custo para rebaixar o preço de seus produtos agregados.

O dólar em queda graças às estripulias da política de juros escorchantes para atrair especuladores – pois que hoje no mundo ninguém investe se a demanda de tudo desaba – continua destroçando o setor exportador.

E os planejadores governamentais, aparelhados amadores em dolce far niente, negam o óbvio enquanto deixam os chineses colocar equipamentos de baixa qualidade, fazer dumping com uma série de produtos. E sequer são obstados de participar de forma predatória em concorrências na indústria naval, no setor petrolífero e entram até na colocação de chapas para a indústria automobilística causando demissões na Usiminas, na CSN, na Gerdau, na Aracruz.

Quando as demissões não são no quadro direto atingem em cheio as empresas terceirizadas num vendaval de danos ao emprego em dissolução.
E o Governo? O que faz além de viajar pelos ares e na maionese azeda do mal engendrado PAC de baixa execução financeira e suas construções populares, o nosso sub-prime tupiniquim?

Enquanto o conselho de empresários da Austrália dá exemplo de preocupação com as investidas chinesas e barra a sua oferta hostil de US 19.5 bi pelas ações da Rio Tinto, a terceira mineradora do mundo, impedindo que estes adentrem perigosamente nos recintos de uma grande empregadora e produtora de divisas para o país, o Brasil o que faz?

Caminha desatento pela contramão. Trafega na via tortuosa do dinheiro especulativo que entra açodado e ávido e que tão rapidamente como entrou pode nos deixar de repente, trocando de porto como marinheiro errante em busca do prazer de usar sem compromisso a porta aberta irresponsavelmente pela abstração da política monetária e cambial da realidade do novo mundo.

Os juros que deveriam cair de 12% a.a para 7% a.a continuam estacionados no patamar da irracionalidade dos dois dígitos graças à vesguice e leniência presidencial

Estamos agindo, ou melhor dizendo, deixando de atuar, tecendo sim loas a um presidente de BC que representa o setor financeiro e não tem pudor em cooptar nosso maior dirigente para a causa espúria de defender o lucro dos bancos à custa de infelicitar por anos seguidos o setor produtivo.

Chega de alertas estéreis e bem comportados de dirigentes de empresas, que elogiando ações governamentais deixam de estocar com profundidade as mazelas de um governo despreparado em lidar com seriedade com assuntos de interesse quanto mais como administrar crises, eis que ungido na sorte da época de vacas gordas.

Não vai haver dinheiro do BNDES suficiente para tanta demanda de empresas em dificuldades. Os recursos estão todos canalizados para as grandes empresas.


O governo ao aceitar mal negociando a dádiva dos US$ 10 bilhões dos chineses para a Petrobrás agiu com suspeito açodamento. A China têm reservas para comprar mais de 10 petroleiras inteiras. Abrimos o flanco num negócio repentino, mal avaliando os riscos. E embarca na mesma canoa furada que leva o ditador venezuelana a fazer pilhéria do nosso Congresso e com o nosso dirigente máximo.

O Brasil em sua política exterior tem errado grosseiramente ao permitir e incentivar a entrada da Venezuela no Mercosul e ao não impedir os arroubos do equatoriano Rafael e do boliviano Morales. É um mistério de subserviência a líderes com vocação para o impasse e o regime ditatorial. E os negócios incentivados pelo governo brasileiro de empresas de um mesmo grupo no Equador e na área petroquímica tanto em Recife quanto em Caracas dizem muito mais em quanto à sucessão de suspeitas que requereriam além da CPI, um imediato repúdio dos empresários e formadores de opinião brasileiros.

No Brasil em verdade, os cisnes negros contrariam a teoria de Nassim Taleb. Têm estranha maioria, habitam o congresso, comem churrasco com o presidente e seduzem uma mídia desatenta, sem analistas com acuidade e isenção, no intenso paradoxo entre o carisma de proveta e o cataclismo inverso e boquirroto do profeta da mistificação.

A crise é longa e entrecortada de lampejos de ilusão.
Um país que emite trilhões para salvar bancos e financiar a fundo perdido empresas falidas, não pode ter longa duração como detentor de padrão monetário.

O Brasil precisa deixar de forjar candidatos sem lastro por escrutínio individual de bafejados pelo acaso.
Precisa perder as amarras que faz prender seus principais dirigentes ao lobby dos banqueiros.
Precisa saber que as reservas que vem juntando ás custas do setor produtivo e beneficiando os bancos estão sendo alavancadas por estes para potencializar a extorsão das empresas pelos contratos de gaveta dos derivativos.

Reservas formadas de moeda e títulos em processo de perda de valor e que deveriam ser usados imediatamente para financiar nossos grandes conglomerados internacionais na compra de ativos em liquidação de boas empresas pelo mundo e não o inverso.

Assim ao invés de vermos doravante incursões estrangeiras sobre a Vale e a Petrobrás, via bolsa e ofertas hostis, estaríamos vendo estas a buscar em boas condições de preço empresas estrangeiras para reforçar sua presença no mundo.

Ao invés de abrir espaço para o chinês no mundo vasto das empresas nacionais, o nosso loquaz ventríloquo brasileiro, deveria usar as reservas para preservar a independência e o mercado de nossas grandes corporações.

Ao invés de enterrar dinheiro recém saído da Casa da Moeda como a estratégia americana de aplicar em empresas e bancos falidos, deveria pegar seus dólares das reservas antes que virem pó e aplicar na compra de empresas no mundo, no aumento de participação e funding de empresas sadias.

Maus negócios como o que milagrosamente não fez a Vale há dezoito meses atrás quando quase comprou a Xstrata por US$86 bilhões e se inviabilzaria, hoje custariam 80% menos mas continuariam não sendo um bom negócio. Mas uma Alcoa que também vale cerca de 70% menos, ale da estratégia defensiva neutralizando os chineses da Chinalco certamente agregaria um extraordinário valor a nossa maior mineradora com menos dispersão de produtos e de países de produção.

O nosso presidente tão loquaz precisa parar de fazer discurso fora do carro de som – sua especialidade – se divorciar e afastar de sua proximidade seus orientadores de negócios, saua política externa é paupérrima e contempla beócios aparelhados treinados em negociações de sindicatos. Precisa aprender antes tarde do que nunca a pensar negócios para o país e o futuro de seus cidadãos. Não para si próprio e seus amestradores de zoológico.

Extorquir a patuleia com discursos fora de moda diante da crise monumental e querer tornar uma guerrilheira em ventríloqua a sua imagem e semelhança, é mais que um embuste a mais em seu currículo pobre.

É uma abusada insistência em menosprezar a inteligência do cidadão que pensa.

Se o congresso não fosse uma casa de tolerância máxima após o mensalão e a decapitação de todos os envolvidos sequer precisaríamos da CPI da Petrobrás.

Há uma montanha de resíduos tóxicos nas entranhas da administração petista da nossa maior empresa. Pena que uma oposição covarde e comprometida não se interesse pela obtenção e depuramento dos desvios.

No Brasil, com a classe política que impera e infesta com sua mediocridade os sombrios corredores de Brasília, torna-se extremamente difícil transformar esta crise muma grande oportunidade.

CPI da PETROBRAS



Publicado na penúltima edição da GAZETA MERCANTIL em 25/05/09

Salvador Sícoli Filho - 20/05/09

Há uma série de questões relevantes para se inquirir os atuais responsáveis pela Petrobrás.
Os minoritários de longa data então - e não aqueles que especulam no dia a dia e que lucram com a volatilidade de suas ações - têm razões de sobra para se insurgir e indagar:
- como está sendo apropriado o lucro extraordinário com a baixa das cotações internacionais sem o correspondente desconto ao consumidor final?
- por que o inchaço do conselho com apadrinhados políticos despreparados para as funções?
- por que o capital circulante vem minguando a cada dia obrigando a empresa, independente de seus investimentos, a recorrer a bancos e a tomada de dinheiro no mercado internacional?
- por que o governo às voltas com falta de recursos para financiar o BNDES, esvazia o caixa do mesmo privando as outras empresas e cedendo R$ 25 bilhões à Petrobrás?
- o conselho da empresa, o governo e seu presidente avaliaram os riscos de se tomar empréstimos e fazer parcerias com a China, num setor vital da economia brasileira? Exatamente como maior detentora de reservas monetárias do mundo a China pode sem transtorno fazer um take-over e se tornar perigosa acionista da empresa. Houve esta avaliação ou o governo brasileiro vai repicar também aí a tática bolivariana?
- por que a Petrobrás paga aos minoritários um dos menores cash-yields do mercado sendo ela a maior empresa do país?
- por que a Petrobrás continua fazendo negócios com países governados por parceiros não confiáveis alguns dos quais lhes expropriaram bens e causaram vultosos prejuízos em seus investimentos?
- quais os motivos levam o presidente da Petrobrás a usar da arrogância para se esquivar de questões fundamentais das finanças, dos negócios e da falta de transparência da empresa, camuflado com a emissão sucessiva de comunicados intermináveis sobre cada descoberta ou prospecção no pré-sal ou no gás?
- por que a praxe curiosa de, a cada escândalo acontecido no partido do presidente, a empresa noticiar descobertas ou reesquentar notícias?

Terão os nobres senadores capacidade intelectual ou interesse em desvendar questões de fundamental importância para diagramar o esfacelamento administrativo e tirar da sobrevida a nossa maior empresa?

Se não atuarem rápido a Petrobrás tende como o presidente a imitar o fracasso da sua congênere venezuelana.

Os papéis sobem. A liquidez fascina os grandes especuladores. Porém fundamentalmente, a forte diminuição do circulante e o incremento explosivo do endividamento recomendam muita cautela.