segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Apostas Especulativas Amadoras?

Salvador Sícoli Filho – 04/10/08


Que os presidentes das repúblicas falem pelo traseiro já não constitui novidade para ninguém.

Chávez, Bush, Morales disputam com o nosso o galardão da estultícia com direito a faixa.

No caso em tela vimos estupefatos que, diretores de empresas de primeira linha no circuito exportador não agiram exatamente como patriotas acreditando mais na moeda nacional do que no dólar - exatamente o contrário do que a proficiência do nosso dirigente arrostou. Comportamento amador, ignorância em lidar com instrumentos derivativos de alta volatilidade, falta de visão da crise que há mais de um ano é denunciada pelas quebras sucessivas de casas bancárias mundo afora. Tudo isto denunciava o tsunami que se aproximava, mas que fica difícil de admitir tivesse sido ignorado pelos dirigentes das exportadoras. Ao invés de hedge, por motivos obscuros, os financeiros destas empresas enveredaram na aposta nada altruística de defender a moeda fictícia do presidente. O caso Aracruz tem contornos mais dramáticos.

O caso da Aracruz remete mais a folhetim do que a empresa séria que era até pouco tempo padrão de eficiência.

Desde que o fechado grupo Votorantim anunciou a compra das ações do grupo Lorentzen fatos estranhos passaram a suceder.

Ao invés de acatar a legislação e estender a oferta aos minoritários através do tag along preferiu a empresa buscar subterfúgios para não cumprir seu dever.

O acordo com o Banco Safra para não exercício deste do direito de vender as ações fruto de um acordo provocou mais desconfiança no mercado.

E quando em 25 de setembro anunciou perdas não avaliadas em derivativos de câmbio o mal estar aumentou e atomizou de vez com as cotações das ações.

Em toda operação de opções ou derivativos existe um vencedor e um derrotado. As avaliações pífias de uma consultoria não identificada e o comunicado de 2 de outubro aniquilaram de vez com o valor das ações.

Mas quem engendrou tal esdrúxula operação?
Quem foi a parte vencedora?
Tal operação foi engendrada para dar prejuízo e provocar a corrida desvairada de vendas para aí então alguém comprar as ações a preços aviltados?

A Aracruz em pleno tsunami do mercado financeiro especulou e não encerrou rapidamente posições que passaram a tender para zero e/ou um prejuízo fabuloso. Por quê?

Acreditar-se que alguém não sabia o que estava fazendo é conspirar contra a esperteza dos lúcidos.

Por que só depois de anunciado o prejuízo potencial é que foi às compras para abrir posições inversas?

Fazer contrato longos de derivativos sem porta de encerramento com o mundo em chamas é como pular do 25 piso e querer chegar ao térreo vivo.

A Aracruz de forma confusa e sem dar nome aos bois perdeu quase todo o valor que precisaria para implantar uma nova fábrica em Minas Gerais.

Depois de tantas escaramuças para ascender ao palco de New York e subir no Sustainability Indexes, a Aracruz vai ser açoitada por questionamentos de investidores quer a CVM se apresente ou não como sempre alheia aos interesses dos pequenos acionistas.

O caso é grave demais para ouvir palpites de estranhos como se estivessem botequins ou em rodadas de futebol.

É realmente caso de polícia.

A Diretoria da Aracruz deve esclarecer como vai pagar R$ 21,25 por ação do Grupo Lorentzen e, sem dizer nada com consistência aos acionistas minoritários, negar seus direitos e ainda denegrir sua imagem corporativa conduzindo o valor das suas ações ao lixo sem reembolsar os prejuízos da ação temerária de seus executivos.

Amadores ou espertos demais?

CARTA A MARIA CLARA DO PRADO


em 9/10/08, Cara Maria Clara,

Muito bom o seu artigo as "Fábricas que viraram pó".

Sobretudo como engenheiro financista, consultor de empresas e especialista em mercado de capitais e conhecedor das práticas de operações complexas de derivativos, esse arsenal de instrumentos que acabou complicando o mundo, causou-me espécie a afoiteza com que diretores financeiros de empresas de primeira linha no setor de exportação atuaram. (lembro que meu primeiro artigo sobre a crise financeira do sub-prime e a antevisão de sua conseqüências sobre o mercado financeiro foi publicada em 25/08/07
no JB)

Seu artigo, por situar-se no plano da teoria, toca de leve na gravidade como pecam alguns jornalistas e jornais brasileiros.

Têm medo de colocar o dedo na ferida.

E faltam-nos jornalistas ou redatores investigativos

O caso da Aracruz - que vem sendo objeto de vários artigos meus - alguns publicados, outros não - chega ao ponto do escabroso.

E tudo começou a partir da intenção do grupo Votorantim de, a partir de um problema familiar do grupo Lorentzen, fazer uma montagem de operação de aquisição sim do controle por um modelo execrável e que afastaria os pequenos acionistas e o BNDES (outro omisso do processo : até hoje não entendi a lerdeza do sr. Luciano Coutinho à frente desta outrora importante instituição - a não ser por razões que não se vale a pena aqui citar)

Não se pode em nenhuma hipótese admitir a eterna ausência da CVM na investigação de casos como esses.Esta só se preocupa em apanhar desprevenidos pequenos atores atores do mercado deixando de lado as mazelas das empresas. Cite-se aqui a falta de responsabilidade na mesma nas emissões de ações de empresas que abriram o capital recentemente.
Irresponsabilidade maior não poderia ser dimensionada pelos prejuízos que causou a neófitos inversores.

Não se pode admitir que o BNDES não exija o que os pequenos acionistas não vêem obtendo da Aracruz:
um relato completo de cada operação efetivada, o montante e a data de vencimento de cada uma. Por que estas operações não foram encerradas antecipadamente. (isto porque não se pode admitir que um diretor financeiro medianamente dotada não tenha uma visão de mercado macro do que se vinha toldando no ambiente há quase dois anos). Quem não previu em seu cenário uma inversão do câmbio burlescamente mantido pela estupidez do governo e seu ufanismo barato de gaiato trombeteador de vantagens e o esquema de manter juros altos para garantir não a formação de reservas, mas a de manter funcionado o cassino para que recursos fáceis e baratos continuassem a adentrar o país etc, não é administrador financeiro´.
É especulador estovado e que iria certamente dar com os burros n´água.

E se este administrador temerário, que não pode ser tão burro assim, e pelo contrário, pode ser um esperto aventureiro acoplado a uma contraparte bancária pronta para repartir parte de seu lucro de ganhadora numa aposta previamente estabelecida?

Quem são as contrapartes das operações "estranhas" da Aracruz?

Por que ao menor sinal de mudança do câmbio não inverteu as operações?

Há algo de podre no reino da Noruega...

Por que o Banco Safra abriu mão de vender sua parte na Aracruz como previa o pseudo acordo de acionistas da empresa? ( pseudo, por que estava vencido).

Bom, me desculpe a rudeza das palavras minha querida Maria Clara.

Quando lá pelos idos de 2002 (desculpe-me, a madrugada tolhe-me a lembrança das datas) estourou o escândalo de uma das maiores empresas americanas, a Enron, o massacre da exatidão da imprensa colocou todos os pingos nos is.
Aqui vamos ajeitando e temos a covarde maneira de ajeitar as coisas.

O caso da Aracruz é gravíssimo.
E já escrevi mais de uma dezena de alertas sobre o assunto e seus desdobramentos.
Alguns desses artigos foram republicados no exterior.

O que era a primeira empresa a entregar balanços, a maior empresa produtora de celulose de fibra curta do mundo, a primeira empresa brasileira a entrar na bolsa de Nova York - a Nyse, e igualmente a primeira a pertencer ao Sustainability Indexes do DJ, comportou-se como uma empresa fechada e mesquinha como sói acontece com o seu novo futuro proprietário.

Teve a perda correspondente a US$ 1 bi - se é que é isto mesmo já que pela descrição que recebi da empresa em comunicado de23hs58 de 25/09/08 ela não havia quantificado as perdas e em 2//10 quantficou R$ 1,950 bi mas deixou uma tremenda dúvida em quanto ao não fechamento das operações. Como disse também que - às pressas te tardiamente torna-se claro pelo valor contratado de R$1,91 - que tinha uma posição comprada de R$ 548 milhões, não se pode atestar o que fez a não explicitada consultoria de que disse ter contratada para auditar as operações.

Assim, repito, há um mopnte de sombras no ar.

Pelos preços correntes para implantações de indústria de celulose, a Aracruz conseguiu]realmente perdeu o correspondente a uma fábrica de celulose com capacidade para 700 mil/ton/ano. Ou seja, praticamente o que deveria investir em uma das duas unidades previstas para Minas Gerais em Governador Valadares.

O caso é longo e o sono me derruba.

Continuo como sempre seu admirador pelos belíssimos artigos que você escreve.
Mas abalado pelas mediocridades qe nos governam resolvi lhe enviar esse material.

E com saudades da famosa coluna sua do meio da semana na página A2 da velha Gazeta Mercantil, ( e onde o saudoso Dr. Herbert Levy certa vez me concedeu escrever).

Por fim parabéns pela sua didática correta na abordagem dos derivativos que fizeram ruir alguns mitos e ícones empresariais pelo mundo.

Salvador Sícoli Filho

domingo, 12 de outubro de 2008

ARTIGO PUBLICADO EM VALOR ECONÔMICO DE 19/08/08

O minoritário e a troca de controle na Aracruz

Salvador Sícoli Filho19/08/2008


Uma das maiores transações de aquisição de controle está em vias de acontecer e merece alguns comentários. Num setor onde o Brasil é campeão mundial de produtividade e mudou a rota de processo de todo o segmento, a investida do grupo Votorantim no papel de principal produtor mundial de celulose de fibras curtas só mereceria encômios. A não ser por alguns aspectos que passamos a elencar.

É estimulante o grande desenvolvimento havido no mercado de capitais brasileiros de 2002 para cá e a arremetida final que teve no ano de 2007, quando chegaram ao ápice a liquidez internacional e os recursos externos refletidos na intensa onda de abertura de capital de um grande número de companhias brasileiras. Este cenário foi bem retratado em riquíssimo artigo do professor Roberto Teixeira da Costa, no Valor, no último dia 12 de agosto. Aliás, frise-se, um dos grandes pioneiros e desbravadores do mercado de capitais brasileiro.

No entanto, a reboque dessa fulgurante onda de aberturas e algumas transações de grande vulto. Recorde-se aqui as incursões internacionais do grupo Votorantim na área de metais, da Gerdau com compras semeadas na América Latina, nos Estados Unidos e na Espanha. Sem falar na disparada inconteste da internacionalização da Vale os eventos surpreendentes como a tacada arrojada da InBev em seu intento de aquisição da Anheuser-Busch.

Dentro desse contexto, não chega a surpreender movimentos internos em função de trocas de gerações de controladores e/ou interesses de unificar companhias para ganhos exponenciais de escala. Recentemente, a Petrobras contribuiu de forma exuberante para a reorganização do machucado setor petroquímico nacional, vítima das agruras bruscas da evolução inaudita dos preços de petróleo que atingiram seu principal insumo.

O que surpreende é que, dentro desse novo conceito de responsabilidade social, de emergente governança corporativa, sejam reincorporados hábitos que não condizem com a pujança demonstrada pela rejuvenescida atitude das empresas em respeito ao importante componente indutor de suas possibilidades de arregimentação de recursos, que é o exército crescente de pequenos acionistas.

Ao relatar ao mercado a intenção de adquirir a parcela de 28% detidas pelo grupo Lorentzen, o grupo Votorantim se apressou em outro comunicado divulgado em paralelo que, corrigindo informações anteriores de web-conference da empresa, não seria extensiva aos minoritários a proposta pela aquisição do controle, visto já serem três grupos, mediante acordo de acionistas, detentores do controle.

No mesmo dia, os agentes de mercado e que por força de atenção profissional leram ou receberam das empresas envolvidas os comunicados, trataram de expressar na prática o resultado apressado de sua leitura. As ações ON da Aracruz foram agraciadas com uma inédita perda que chegou no ápice no dia de 30%, encerrando a sessão com desvalorização de 26,7%.

Mas, o que se quer aqui propagar são exatamente fatores que não podem ser desprezados sob pena de introduzir um gravoso procedimento no círculo virtuoso de ascensão do nosso mercado de capitais.

Ao BNDES, como principal acionista minoritário da Aracruz e que foi vetor primordial no financiamento da implantação do segmento celulose no Brasil nos anos 70, caberá papel relevante na decisão de buscar agora o resgate justo para sua atuação como agente fomento. Ele estará defendendo o seu "funding" para novos investimentos, para sua aplicação numa empresa já consolidada e para os outros preocupados minoritários.

E da CVM, como guardiã das leis do mercado, espera-se com alentada parcimônia que enxergue os direitos indiscutíveis dos pequenos. O que não se pode admitir como conveniente ao florescimento do mercado de capitais é que grupos atropelem as leis e as boas práticas em pretenso nome da consolidação e sinergia de interesses prejudiquem os pequenos acionistas.

O notável grupo Votorantim, por sinal, não é neste quesito um bom exemplo: basta a constatação de que sua melhor estrela aberta entre a constelação de empresas que o formam não disponibiliza uma única ação ordinária na bolsa. E, neste caso, a compra da pequeníssima parcela de ações ordinárias nas mãos dos minoritários seria o único e correto caminho para não transgredir a Lei 6404/76 e suas complementares nos artigos que tratam da responsabilidade do acionista controlador perante possíveis abusos de poder em prejuízo aos minoritários.

Salvador Sícoli Filho é diretor da Salsifi Consulting, consultor de empresas e especialista em mercado de capitais e direito societário

E-mail salsificonsulting@yahoo. com.br

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

ARACRUZ

07.08.08 - Valor Econômico/Por Daniele Camba Mercado aprova oferta pela Aracruz
A oferta da Votorantim Celulose e Papel (VCP) pelas ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Aracruz que estão nas mãos da família Lorentzen foi o grande destaque em mais um pregão em que a recuperação deu o tom dos negócios. A VCP, que já está no capital da Aracruz com 28% das ações ONs, fez uma oferta para comprar os 28% da família Lorentzen por R$ 2,71 bilhões. Apesar do negócio ainda depender de várias etapas para ser fechado ou não, os analistas acreditam que a notícia é positiva. "O resultado será uma empresa muito maior, que poderá competir com outras companhias internacionais do setor e que deve se beneficiar com as sinergias que há com a junção dos negócios da VCP e da Aracruz", diz o estrategista de renda variável para pessoa física da Itaú Corretora, Fábio Anderaos de Araújo. Os grandes ganhadores, na visão dele, devem ser os minoritários da VCP, já que farão parte de uma nova companhia muito maior, após a incorporação da Aracruz. Ao que tudo indica, o resto do mercado também tem a mesma opinião. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da VCP fecharam ontem em alta de 8,98%, a maior valorização do Índice Bovespa, que subiu 1,92% aos 57.542 pontos. Já os papéis da Aracruz não tiveram a mesma felicidade. As PNs série B da companhia caíram 0,19% e as ordinárias despencaram nada menos que 26,17%, a maior queda da bolsa inteira. No caso das preferenciais, um dos principais motivos da queda é a relação de troca que será proposta - entre 0,22 e 0,24 da VCP para cada ação da Aracruz -, que representa menos do que os papéis da Aracruz valiam no mercado. Vale lembrar também que a VCP deve ter interesse em fechar o capital da Aracruz, o que também significa mais uma dúvida sobre qual será o tratamento dispensando aos minoritários da companhia. No caso das ordinárias da Aracruz, apesar da baixíssima liquidez que os papéis têm em bolsa, a grande queda ocorreu porque a VCP já disse que não haverá extensão da oferta aos minoritários donos de ONs da companhia (o "tag along"). Isso provocou uma certa confusão no mercado, já que até então os investidores acreditavam que o negócio se configurava como uma troca de controle, portanto, com direito ao "tag along", previsto pela Lei das Sociedades por Ações (S.A.). A Associação dos Investidores do Mercado de Capitais (Amec) já está de olho no tema, segundo apurou a repórter Graziella Valenti. Edison Garcia, superintendente da entidade, disse que vai avaliar a questão. Na opinião dele, há espaço para discussão, uma vez que o acordo de acionista da Aracruz venceu em maio e, desde então, o único documento que regia o comando da empresa era entre o Grupo Safra e a família Lorentzen, sem participação da VCP. As companhias, porém, já afirmaram e reafirmaram o entendimento de que não há oferta aos minoritários. Os analistas lembram que ainda é precipitado dar o negócio como certo. O Grupo Safra, que conta com um acordo de acionistas com a família Lorentzen, tem 90 dias para se manifestar se concorda ou não com o negócio. Os profissionais acreditam ser bem pouco provável o Grupo Safra emperrar a oferta. "Não vemos motivo para o Safra atrapalhar os planos da VCP, já que não demonstra ser comprador... por ser um grupo financeiro, é esperado que uma hora ou outra realize os lucros deste investimento", diz a Link Investimentos, em relatório.

O MINORITÁRIO E A TROCA DE CONTROLE DA ARACRUZ.


PARTE II

Salvador Sícoli Filho -31/08/08

A VCP ofereceu R$ 2.7 bi por 28% do capital votante da Aracruz em mãos do grupo Lorentzen. Ou seja, todo o capital votante com base no mesmo valor corresponderia a cerca de R$ 9,6 bi.

Se o BNDES possui cerca de 12.6% do capital votante, sua participação valeria, aos mesmos valores por ação, algo em torno de R$ 1.21 bi.

Assim as ações ordinárias em circulação no mercado se reduzem 3.4 % aproximadamente do capital votante. Um valor de R$ 328 milhões. Se se considerar um tag along de 80% o valor seria remetido a pouco mais de R$ 262 milhões.

O BNDES já aportou bilhões ao setor de Papel e Celulose e particularmente ao setor de Celulose a partir da década de 70. À polêmica e pioneira fábrica da Borregaard às margens do Guaíba que com seu cheiro de ovo podre - sulfito - do processo químico incomodava os porto-alegrenses, seguiram-s então as simultâneas implantações da Cenibra em Belo Oriente - MG, associação da VALE com o grupo japonês JBP, e a Aracruz em Barra do Riacho no ES.

Nada mais justo que hoje, maturados os seus investimentos no setor, o BNDES, tão carente de recursos para financiar outros setores, recolha agora o produto de seu investimento reforçando seu funding para novos projetos, através do mesmo preço arbitrado pela VCP para aquisição da parcela do grupo Lorentzen e do grupo Safra. (que provavelmente fará fazer valer seu direito com a opção de venda).

Se num arroubo de paternalismo de estado resolver abrir mão dessa prerrogativa legal e amparada pela legislação, o BNDES deverá ter o aval de seu acionista majoritário, o Governo.

Mas a VCP imputar aos minoritários, muitos dos quais estrangeiros, os devaneios jurídicos sem nexo legal de sua frágil argumentação será golpear mortalmente a sua credibilidade como grupo corporativo.

Teimando em afrontar legislação num momento inclusive em que os ADRs da Aracruz e suas ações negociadas na NYSE fazem parte do Sustainablility Índex - ISDJ - será além de exercício abusivo de coerção aos minoritários, um claro atentado aos compromissos assumidos e mantidos galhardamente pela empresa que mais cedo ou mais tarde terá de incorporar.

Ou alguém em sã consciência imagina que após uma inverossímil concretização dessa aberração o grupo VCP teria credibilidade para continuar a negociar ações nas hoje castigadas bolsas mundiais?

O grupo VCP se vier a recusar fazer por meros R$ 300 milhões uma oferta em dinheiro aos minoritários poderá estar manchando indelevelmente a sua reputação como um dos ícones do que de mais pujante existe entre os grandes grupos empresariais brasileiros.

Quanto ao BNDES espera-se que tenha inventividade suficiente para dimensionar o tamanho da encrenca em que se envolve no presente imbróglio e da sua grande responsabilidade caso opte por ficar à margem da linha de defesa dos minoritários.

No presente caso e pelos antecedentes do grupo Votorantim quando fez oferta na década passada aos acionistas de suas empresas de cimento, não há que se cogitar sejam os minoritários acuados com propostas de permuta de ações da VCP. Este expediente seria anulado pela tradição do grupo de não disponibilizar ações ordinárias em Bolsa. Ou alguém já deparou com algum negócio com ações “on” da VCP?

Este esquema de varrer o minoritário para baixo do tapete só não foi ainda oficializado pela presença do BNDES entre seus acionistas.

Com seu anúncio intempestivo o grupo VCP já provocou queda instantânea de cerca de 30% no valor das ações ordinárias da Aracruz. Em menos de um mês seus ADRs em ações preferenciais perderam quase igual percentual.

Como todo lucro do BNDES no primeiro semestre pode ser atribuído ao lucro de sua carteira de ações na BNDESPAR, para que este resultado não esmaeça seria importante um posicionamento adequado da instituição no caso da troca de controle da Aracruz e antes que efeitos combinados comprometam de vez os esforços de anos a fio para se erguer um exemplar mercado de capitais no Brasil.

Desculpe - nos,

Este serviço está em manutenção.

Lamentamos o amor que você dedicou a seus papéis.

Já dizia Keynes:
“A longo prazo estaremos todos mortos”


Hoje morreu um grande amigo investidor.

O MINORITÁRIO E A TROCA DE CONTROLE DA ARACRUZ.

Aspectos corporativos e desdobramentos no mercado impactam empresas envolvidas.

PARTE II

Salvador Sícoli Filho – 16/09/08 rev2

Sim o caso é instigante, suscitou polêmica, e mereceria uma reflexão apropriada dos principais atores envolvidos.

A oferta de compra de controle do grupo VCP por 28% das ações do grupo Lorentzen estabelece uma oportunidade ímpar para se fazer a exata leitura de nossa legislação societária. E assim mostrar ao mundo que além das potencialidades formidáveis de um imenso universo de boas empresas, temos um arcabouço legal estabelecido, fundamentado, e que fornece recursos para, em quaisquer desvios, prover a imediata a imediata regulação.

No imenso palco, avistado por stakeholders do mundo inteiro, temos no caso em tela atores de renomada imagem e líderes em seus segmentos de mercado.

A Aracruz, empresa prestes a ser incorporada, é estrela de primeiríssima grandeza no mercado acionário internacional. Tem ainda a primazia de ser a primeira empresa brasileira com ações negociadas na NYSE e assim com investidores espalhados além de nossas fronteiras. E mais do que isto possui o galardão de pertencer ao Sustainabilility Index daquela bolsa. Empresa exemplar dotada de ampla governança e critérios de responsabilidade social que fazem da mesma um padrão no trato com as comunidades em seu entorno.
E possui o menor custo de produção do mundo para a celulose branqueada de fibra curta. Aquela produzida a partir de espécies de eucalipto.

De outro lado o poderoso grupo Votorantim um dos maiores no setor privado com interesses em vários segmentos de proa da indústria nacional e que cresce também além fronteiras. Mineração, metalurgia, siderurgia, papel e celulose compõem um portifólio admirável.

Mas que não chega a ombrear-se a sua futura incorporada no quesito de disclosure e tratamento igualitário aos seus minoritários. Depois de fechar o capital de suas empresas abertas de cimento na década passada em procedimento bastante discutível reingressou na bolsa quando se expandiu no mercado de papel e celulose ao adquirir a Papel Simão que depois de esperançosa abertura de capital passava por dificuldades.

A VCP portanto ainda não se equipara em ativos, performance, custo de produtos e uma série extensa de indicadores do setor de celulose.

Este setor em que se abriu a janela da oportunidade a partir da saída inicial dos noruegueses da Borregaard e sua polêmica fabrica às margens do Guaíba. Sempre com o BNDES exercendo o precioso papel de banco de fomento para o segmento.

E assim, de aquisição em aquisição, o segmento passou a figurar com destaque na portifólio de investimentos da Votorantim.


REPERCUSSÕES DE UMA CHICANA SOCIETÁRIA


As perdas potenciais de uma decisão açodada podem nublar o horizonte no estrangeiro para as ações brasileiras.

A VCP ofereceu R$ 2,7 bi por 28% do capital votante da Aracruz em mãos do grupo Lorentzen. Ou seja, todo o capital votante com base no mesmo valor corresponderia a cerca de R$ 9,6 bi.

Se o BNDES possui cerca de 12,6% do capital votante, sua participação valeria, aos mesmos valores por ação, algo em torno de R$ 1.21 bi.

Assim as ações ordinárias em circulação no mercado se reduzem 3.4 % aproximadamente do capital votante. Um valor de R$ 328 milhões. Se se considerar um tag along de 80% o valor seria remetido a pouco mais de R$ 262 milhões.

O BNDES já aportou bilhões ao setor de Papel e Celulose e particularmente ao setor de Celulose a partir da década de 70.
À polêmica e pioneira fábrica da Borregaard que com seu cheiro de ovo podre – o sulfito do processo químico - incomodava os porto-alegrenses, seguiram-s então as simultâneas implantações da Cenibra em Belo Oriente - MG, associação da VALE com o grupo japonês JBP, e a Aracruz em Barra do Riacho no ES.

Nada mais justo que hoje, maturados os seus investimentos no setor, o BNDES, tão carente de recursos para financiar outros setores, recolha agora o produto de seu investimento reforçando seu funding para novos projetos, através do mesmo preço arbitrado pela VCP para aquisição da parcela do grupo Lorentzen e do grupo Safra. (que provavelmente fará fazer valer seu direito com a opção de venda).

Caso resolva abrir mão dessa prerrogativa legal e amparada pela legislação, o BNDES, que deverá ter o aval de seu acionista majoritário, o Governo perderá além da oportunidade um valor próximo a R$ 500 milhões.

Mas se a VCP imputar aos minoritários, muitos dos quais estrangeiros, a prevalência de argumentação jurídica frágil diante do estampado nas leis societárias poderá golpear mortalmente a sua credibilidade como grupo corporativo.

Teimando em afrontar legislação num momento inclusive em que os ADRs da Aracruz e suas ações negociadas na NYSE fazem parte do Sustainablility Index - ISDJ - será além de exercício abusivo de coerção aos minoritários, um claro atentado aos compromissos assumidos e mantidos galhardamente pela empresa que mais cedo ou mais tarde terá de incorporar.

Ou alguém em sã consciência imagina que após uma inverossímil concretização dessa imposição o grupo VCP teria credibilidade para continuar a negociar ações nas hoje castigadas bolsas mundiais?

A formatação da junção da Arainvest - grupo Safra – com a VCP só reforça a diluição futura das participações minoritárias do BNDES e dos pequenos acionistas

O grupo VCP se vier a recusar fazer por meros R$ 300 milhões uma oferta em dinheiro aos minoritários poderá estar manchando indelevelmente a sua reputação como um dos ícones do que de mais pujante existe entre os grandes grupos empresariais brasileiros.

Espera-se que o BNDES tenha inventividade suficiente para dimensionar o tamanho da responsabilidade em que se envolve no presente imbróglio e da sua grande responsabilidade caso opte por ficar à margem da linha de defesa dos minoritários.

No presente caso e pelos antecedentes do grupo Votorantim quando fez oferta na década passada aos acionistas de suas empresas de cimento, não há que se cogitar sejam os minoritários acuados com propostas de permuta de ações da VCP. Este expediente seria anulado pela fechada tradição do grupo de não disponibilizar ações ordinárias em Bolsa.
Ou alguém já deparou com algum negócio com ações “on” da VCP?

Reiteramos que o comunicado de VCP e do Safra em 15/09/08 constituindo uma nova Holding com ações ordinárias divididas meio a meio só confirma a suspeita do fechamento do acesso dos minoritários a ações votantes.

E a costumeira ação vigente no mercado de varrer o minoritário para embaixo do tapete só não foi ainda oficializado pela presença do BNDES entre seus acionistas.

Desde o primeiro anúncio do grupo VCP já houve queda de cerca de mais de 30% no valor das ações ordinárias da Aracruz. Em menos de um mês seus ADRs em ações preferenciais perderam quase igual percentual. Quem irá mitigar estes prejuízos aos acionistas, a perda patrimonial e de valor de mercado?

Como todo lucro do BNDES neste primeiro semestre pode ser atribuído ao lucro de sua carteira de ações na BNDESPAR, para que este resultado não esmaeça seria importante um posicionamento adequado da instituição no caso da troca de controle da Aracruz.

Assim há de se prevenir para que efeitos combinados não comprometam de vez os esforços de anos a fio para se erguer um exemplar e crescente mercado de capitais no Brasil.

QUEM VAI PAGAR A CONTA?

Salvador Sícoli Filho - 20/09/09

"Não há almoço grátis" é uma frase capitalista criada por Tio Sam e agora o governo Bush fecha com chave de fenda e super bonder o esquife do "american way of life".

Humilhado, o arrogante ainda vai emitir dinheiro para passar aos incautos estrangeiros pilotados pela China, Emirados, Ásia e Europa e até os sudamericanos chefiados por Chávez que, palavras ao vento, se encastelaram nos Treasuries e nos dólares voláteis dos milhões de derivativos criados com base nos toxic papers sem controle.

US$ 700 bilhões?! É pouco?
Que sejam Trilhões, não importa.
Ainda há quem acredite que o defunto está vivo.
Então que se emita e se encontre otários.

Tudo para sustentar o monumental déficit americano que há décadas passa incólume aos olhos do mundo, extasiado pelo marketing de vaudeville criado pelos temerários bancos americanos. Impávidos colossos que fizeram escola mundo afora.
Não bastou o exemplo de 1997 quando o vendaval transformou em pó o sistema bancário japonês.

Sinais lançados e ignorados há quase dois anos.

Alertas ignorados pelo mundo afora.

A China em dilema vê agora o smelt-down da Bolsa de Shangai que em menos de um ano perdeu 70% do valor. Noviços investidores rodopiando como zumbis se escondem nas encostas e escarpas em ereção do ninho dos pássaros, enquanto o regime trocava exportação franqueada, por yuan impassível, e aplicações internas pela farra de títulos e instrumentos financeiros criados pela magia dos Copperfields dos gigantes de pés de barro que começaram a desmoronar do outro lado do mundo.

Quem vai pagar a conta?

Ela será dependurada para que as gerações futuras se esmerem na inventividade e, sobretudo, na vergonha pela barafunda promíscua e descontrolada edificada para ruir e que levou a honra americana afobada para apagar as chamas do 11 de setembro de 2001 a instituir o crédito fácil para clientes de renda incerta, juros baixos sujeitos a controvérsias e o culto à exuberância irracional de Alan Greenspan e sua pasta mágica pelas calçadas de Wall Street.

Com a reconstrução assentada em cima da quimera de esquecer seus déficits, suas mazelas, suas precariedades e erigir um falso sistema de dar aos sem lastro a falsa sensação de propriedade, o governo americano de Bush erigiu o mais fantástico castelo de areia do planeta.

Crédito farto aos desassistidos, lastreados em instrumentos sem controle que se propagaram pelo mundo, parecem cenas de país subdesenvolvido.

Mas aconteceram impune e impudentemente com a quase extinta e embalsamada ex-maior economia do planeta.

God save América!

DE JÉROME K A CHRISTINE: A CRISE ATRÁS DA PORTA.

Salvador Sícoli Filho – 21/09/08

Depois da porta arrombada a ministra Christine Lagarde só pode agradecer a generosidade de Bush dando canja na guitarra.

O solo que vai inundar bancos falidos de dólares recém saídos do forno e cobrir a falta de supervisão bancária de gestores irresponsáveis.

Inclusive de alguns celebrados bancos franceses que entraram na dança mesmo sem contar com a voz de Carla Bruni.

O que se requer de altas autoridades no mundo afora é que sejam menos sujeitas aos lobbies bancários que trucidam economias. Estes seqüestram grande parte dos recursos do setor produtivo e, com sua volúpia desvairada por lucros absurdos, usam de artimanhas pouco ortodoxas como derivativos para inflar seus números. Assim podem pagar remunerações exorbitantes a seus executivos.

Quando a corrente da felicidade é rompida, acontece o que aconteceu.

Mas remando cada vez menos horas os franceses não devem contar sempre com a maré favorável.
O risco sistêmico pode estar só começando por lá e bem atrás da senhora baronesa.

UM EXORCISTA NO BANCO CENTRAL

Salvador Sícoli Filho – 03/10/08


Se o pânico veio à tona agora depois de mais de ano sendo toldado por nuvens negras desconhecidas pelo Banco Central, foi por motivos mais reais que os fantasmas de inflação sempre apregoados pelo Banco Central para aumentar a taxa de juros: o escandaloso mecanismo sem supervisão dos títulos colaterais que se propagaram pelo mundo.

Quando a corrente da felicidade quebrou um de seus elos rompeu-se também o paradigma da imprescindível confiabilidade do sistema.

Enquanto fermentava lá fora a crise descomunal, o nosso Banco Central, cativo do sistema bancário, continuou a aumentar temerariamente a taxa básica de juros sob o esfarrapado pretexto de manter no centro da meta uma inflação transitória urdida pelo vetor exógeno e volátil de commodities prestes a retroceder.

Aumentou inutilmente as taxas para manter acesas as velas para iluminar a entrada de especuladores em busca de ganhos rápidos. Postergou-se a dívida e a vulnerabilidade foi ocultada por reservas em moeda duvidosa.

Mas quando a borrasca, anunciada com pompa e circunstância, despejou sua tormenta de quebras no sistema financeiro mundial impactando e restringindo a antiga fonte fácil de recursos e liquidez, a permanência do BC no engodo de aumentar as taxas básicas passou dos limites de tolerância. Todos os BCs do mundo estão retrocedendo em desespero as taxas de juro de maneira a tentar ressuscitar seus defuntos sistemas.

No pânico não se retém investidor algum por meras altas taxas de juros de países sem cacife. O país tem US$ 207 bilhões de reservas em uma moeda potencialmente sujeita ao descrédito no planeta. No mundo giram US$ 15 trilhões só em títulos colaterizados vinculados à bolha do sub-prime. US$ 850 bilhões serão suficientes apenas para manter sub-judice a tenda de oxigênio para gigantes de pés de barro.

Na casa, a inflação real recua em cinco de grandes capitais no país.
Se, se brecar o crescimento - conseguido, aliás, por fatores também exógenos e não mercê de nossas façanhas governamentais - dar-se-á um passo para o mesmo despenhadeiro em que se embrenham outrora poderosas economias.

Se não é caso de polícia a taxa de juros do nosso BC, é sem dúvida motivo para a convocação de um exorcista e de um analista.

UM EXORCISTA NO BANCO CENTRAL

Salvador Sícoli Filho – 03/10/08


Se o pânico veio à tona agora depois de mais de ano sendo toldado por nuvens negras desconhecidas pelo Banco Central, foi por motivos mais reais que os fantasmas de inflação sempre apregoados pelo Banco Central para aumentar a taxa de juros: o escandaloso mecanismo sem supervisão dos títulos colaterais que se propagaram pelo mundo.

Quando a corrente da felicidade quebrou um de seus elos rompeu-se também o paradigma da imprescindível confiabilidade do sistema.

Enquanto fermentava lá fora a crise descomunal, o nosso Banco Central, cativo do sistema bancário, continuou a aumentar temerariamente a taxa básica de juros sob o esfarrapado pretexto de manter no centro da meta uma inflação transitória urdida pelo vetor exógeno e volátil de commodities prestes a retroceder.

Aumentou inutilmente as taxas para manter acesas as velas para iluminar a entrada de especuladores em busca de ganhos rápidos. Postergou-se a dívida e a vulnerabilidade foi ocultada por reservas em moeda duvidosa.

Mas quando a borrasca, anunciada com pompa e circunstância, despejou sua tormenta de quebras no sistema financeiro mundial impactando e restringindo a antiga fonte fácil de recursos e liquidez, a permanência do BC no engodo de aumentar as taxas básicas passou dos limites de tolerância. Todos os BCs do mundo estão retrocedendo em desespero as taxas de juro de maneira a tentar ressuscitar seus defuntos sistemas.

No pânico não se retém investidor algum por meras altas taxas de juros de países sem cacife. O país tem US$ 207 bilhões de reservas em uma moeda potencialmente sujeita ao descrédito no planeta. No mundo giram US$ 15 trilhões só em títulos colaterizados vinculados à bolha do sub-prime. US$ 850 bilhões serão suficientes apenas para manter sub-judice a tenda de oxigênio para gigantes de pés de barro.

Na casa, a inflação real recua em cinco de grandes capitais no país.
Se, se brecar o crescimento - conseguido, aliás, por fatores também exógenos e não mercê de nossas façanhas governamentais - dar-se-á um passo para o mesmo despenhadeiro em que se embrenham outrora poderosas economias.

Se não é caso de polícia a taxa de juros do nosso BC, é sem dúvida motivo para a convocação de um exorcista e de um analista.