domingo, 26 de julho de 2009

PALESTRA SOBRE SUSTENTABILIDADE

Sustentabilidade nas Empresas e nos Projetos

Salvador Sícoli Filho – 15/07/09

Para quem entra hoje na Vale pela Portaria Principal logo se depara com um grande painel com a foto do Precipitador e a citação da Vale como empresa modelo de que cumpre os princípios de sustentabilidade.

E nós estamos muito acostumados a ouvir sobre sustentabilidade nas empresas. Na realidade, sustentabilidade é uma das palavras da moda no mundo corporativo, e nem sempre é aplicada de uma forma correta.

Então vamos começar por aí: o que é uma empresa sustentável? Eu a definiria da seguinte forma: é a empresa que continua gerando lucros para seus acionistas sem causar impactos negativos aos outros stakeholders da empresa. E quais são esses outros stakeholders? São os funcionários, os fornecedores, os concorrentes, comunidade.

A sustentabilidade se assenta em três pilares: econômico, social e ambiental
Parece simples demais? Pois É muito simples. Assim enquanto a chamada governança – outra palavra da moda - está ligada à autogestão da empresa, ou seja, a preocupação com a prestação de contas, a transparência nos resultados e a proteção de acionistas minoritários. Já a sustentabilidade é uma espécie de evolução da filantropia empresarial.

Vai além da responsabilidade social, pois seu papel é analisar as questões sociais e ambientais dentro de todas as áreas de atuação da empresa, desde a alteração na forma de produção até o bom relacionamento com funcionários e consumidores. Para tornar-se uma empresa sustentável, a empresa deve preocupar-se com as questões sociais e com seu relacionamento com funcionários e consumidores e o respeito ao meio ambiente e à comunidade em seu entorno.

Assim sejamos claros: uma empresa é feita para gerar lucro para seus donos ou acionistas (alguém discorda?). Os outros stakeholders são os funcionários, os clientes, os concorrentes, o governo, o meio ambiente, a comunidade em torno da empresa, etc. Portanto, se a organização consegue atingir seu objetivo principal (o lucro), mantendo impactos positivos para todos aqueles que participam direta ou indiretamente das atividades da empresa, ela se sustentará por longo prazo.
Bom, agora que esclarecemos o que é sustentabilidade, como isto se aplica a uma pequena empresa ou aos projetos de engenharia ? Não se pode cometer o erro de pensar que sustentabilidade se aplica somente às grandes corporações… estas somente “aparecem” mais porque possuem um alcance maior e portanto têm impacto em um número maior de pessoas.

Assim se você tem um pequena empresa ou se dedica como nós a projetos de engenharia devemos levar em conta os impactos locais, a inserção devida nos sites já estabelecidos e a sustentabilidade em relação ao meio ambiente.
Para tornar sua empresa ou projeto sustentável, devemos levar em conta alguns dos seguintes aspectos:

1. Sustentabilidade Ambiental:
O lixo de sua empresa é reciclado?
Os resíduos gerados (em caso de pequenas indústrias) são tratados e despejados adequadamente?
Sua empresa apóia iniciativas ecológicas locais?
Caso seu bairro não possua iniciativas ecológicas, sua empresa as cria?
2. Sustentabilidade Social:
Seus funcionários recebem um salário justo e um tratamento digno?
As condições e segurança no trabalho na empresa são adequadas?
Sua empresa apóia programas sociais locais?
3. Sustentabilidade Cultural:
Sua empresa está bem encaixada no perfil do bairro ou da região?
Sua empresa apóia programas culturas no bairro?
O tipo de atividade exercida é adequada para a região na qual a empresa está?
Os valores culturais dos funcionários são os mesmos que os do empreendedor?
4. Sustentabilidade Econômica:
A empresa consegue gerar lucro atuando de forma legal?
As negociações com os fornecedores são levadas de forma justa?
Os clientes recebem o valor pelo qual estão pagando ou são enganados com falsa propaganda?
A concorrência é feita de forma ética?

Aplicando o conceito de sustentabilidade em seu empreendimento, você não só poderá ver o crescimento da empresa ou o enriquecimento do seu projeto com lucros ou resultados positivos no longo prazo. E a satisfação de ver os impactos positivos que causa ao seu redor.

Porém para cumprir os preceitos e conceitos da sustentabilidade o mundo e as empresas, hoje em atmosfera de crise, se veem diante de um grande desafio.
Como continuar a manter esses princípios sob condições extremamente adversas?
Veja-se que a recente cúpula das 8 maiores economias e que contou com a empresa do Brasil como convidado especial e trapalhão não chegou a lugar nenhum
A cúpula do Grupo dos Oito países mais poderosos não conseguiu assumir compromissos significativos em matéria climática, o que aproxima cada vez mais o mundo de uma catástrofe ambiental. Sem compromissos sobre a adoção de medidas, o acordo do G-8 para manter o aquecimento global geral abaixo de dois graus centígrados nos prazos estabelecidos parece insuficiente.
Segundo o que sabem hoje os cientistas, os riscos aumentam muito quando o aquecimento chega aos dois graus. As temperaturas mundiais aumentaram 0,8 graus nos últimos cem anos, e chegarão a aumentar entre 1,2 e 1,5 graus com base nas emissões de gases causadores do efeito estufa que já estão na atmosfera.

O G-8 está integrado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia. A cúpula aconteceu de no começo de julho na cidade italiana de L’Aquila. Por coincidência uma localidade aprazível e calma de belas colinas e campo, bons vinhos e que foi destruída por um terremoto que sucedeu à grande crise do mercado de setembro.
Mas o grande aspecto, o grande desafio para corroborar com as grandes façanhas da Engenharia será continuar a sustentabilidade dos grandes projetos. Projetos estes ancorados nas melhores práticas como aqueles de redução da emissão de gases e poluentes, criação de fontes alternativas de energia, economia de energia e fontes renováveis, reuso de águas industriais, aproveitamento de águas de chuva, bio combustíveis no qual o país é vastíssimo em tecnologias de ponta, nanotecnologia e uma série enorme de outras novas especialidades.

Quais destes instrumentos, tecnologias ou aperfeiçoamentos estamos utilizando em nosso meio?

O que poderemos promover entre nós entre os procedimentos já adotados pelas empresas às quais colaboramos, gerenciamos ou prestamos serviços.
São estas reflexões que deixo sobre este tema esperando que aqueles que de fato se interessarem pelo assunto contribuam futuramente com aportes de ideias e novos conceitos. Obrigado.

Minério sai do chão e preço sobe

Siderurgia chinesa paga mais por minério de ferro

Shai Oster, The Wall Street Journal,de Pequim - 22/07/2009

A decisão da China de fincar o pé à espera de preços mais baixos para o minério de ferro nas negociações com as maiores mineradoras mundiais está obrigando suas siderúrgicas a pagar muito mais pela commodity do que concorrentes ao redor do mundo.

O aumento da demanda na própria China, mais os abalos causados pela prisão de quatro executivos da mineradora anglo-australiana Rio Tinto PLC no país determinada pelo governo, ajudaram a fazer com que o minério de ferro no mercado à vista superasse US$ 90 por tonelada. É o nível mais alto desde o ano passado, segundo a consultora Mysteel, especializada no setor siderúrgico, e cerca de 20% mais alto que os contratos de longo prazo assinados este ano por compradores japoneses, coreanos e europeus.

Segunda-feira, no fim da tarde, a Vale S.A. informou que fez acordo com a siderúrgica alemã ThyssenKrupp AG com preços semelhantes para seus contratos - cerca de um terço menores do que os do preços do ano passado, em média - aumentando o isolamento da China na rodada de negociações deste ano. A mineradora sediada no Rio já havia concluído negociações com outras siderúrgicas no mesmo parâmetro global que a China até agora se recusa a aceitar.

A Associação Chinesa do Ferro e do Aço, que lidera o lado chinês das negociações com as mineradoras, informou que as discussões sobre os contratos estão prosseguindo. Mas as perspectivas para as discussões deste ano, que não terminaram até o prazo limite de 30 de junho, têm sido prejudicadas desde então pela acusação feita pela China de que executivos da Rio Tinto se valeram de subornos para conseguir "segredos de Estado" relativos às negociações sobre o preço do minério de ferro. A Rio Tinto era a principal negociadora do lado das mineradoras.

Segundo analistas, as prisões - juntamente com as a especulação feitas por traders de minérios de que a Rio Tinto parou de enviar ferro para a China - ajudaram a elevar os preços. A Rio Tinto nega as acusações contra seus funcionários e afirma que continua a despachar minério de ferro para a China.

A China importou 297 milhões de toneladas de ferro no primeiro semestre, quase 30% a mais que no mesmo período do ano passado. Sem contratos de longo prazo, as siderúrgicas chinesas precisam comprar mais minério no mercado à vista, sem os descontos. Isso, por sua vez, encarece ainda mais a commodity no mercado à vista.

"Se segredos essenciais do setor vazaram ou não, isso também não tem muita importância, pois não é segredo que a insaciável demanda chinesa por crescimento continuará a alimentar sua demanda sempre crescente de minério de ferro", diz Ren Xianfang, uma analista da IHS Global Insight, consultora especializada em commodities. Ren acrescentou: "Só esse fato já vai prejudicar o poder de barganha da China em qualquer negociação relativa a recursos."

O governo chinês não tem comentado muito sobre o caso dos executivos da Rio Tinto desde a prisão de Stern Hu, um cidadão australiano, e três colegas chineses da mineradora.

Pessoas informadas sobre as negociações anuais dizem que muitas das informações mais úteis para as mineradoras incluem dados sobre preços do aço, estoques e lucros corporativos. Todos esses dados são revelados publicamente, ou disponíveis por meios legais.

O caso pode envolver informações corporativas que ainda não foram reveladas em público; ou talvez os executivos da Rio Tinto podem ter reunido uma tal quantidade de dados a ponto de alarmar as autoridades.

"Há muitos dados que as mineradoras adorariam saber. É o tipo de coisa que se consegue bebendo com pessoas até tarde da noite, criando boas relações de trabalho", diz Alan Heap, analista especializado em ferro do Citigroup Inc. Mas, diz ele, "é diferente na China, onde essas coisas podem ser segredos de Estado".

Hu estava encarregado do setor de minério de ferro da Rio Tinto na China, e supervisionava as vendas da commodity para siderúrgicas chinesas. A questão principal, para a Rio e outras mineradoras, seria avaliar a futura demanda chinesa.

Segundo analistas, as mineradoras poderiam ter tido uma boa indicação de que a demanda aumentaria em resultado do pacote de estímulo econômico do governo chinês, de US$ 585 bilhões, que inclui cerca de US$ 220 bilhões em investimentos em estradas, pontes e outras obras de infraestrutura.

Menos US$ 26 bi em Investimentos em Siderurgia

Siderurgia: Grandes projetos no país são cancelados, suspensos e adiados por Baoesteel, Usiminas, CSN e Gerdau

Crise afeta investimentos de R$ 53 bilhões

Vera Saavedra Durão e Sérgio Bueno, do Rio e Porto Alegre - 24/07/2009


Os investimentos na siderurgia brasileira encolheram fortemente com a crise econômica que retraiu a demanda por aço em todo o mundo. Três grandes projetos foram suspensos e adiados, um cancelado e um quinto ainda encontra-se sem definição. O montante previsto para esta carteira de obras era da ordem de R$ 53 bilhões conforme anúncio feito pelas empresas e projetos encaminhados ao BNDES para financiamento.

O primeiro grande projeto afetado pela crise foi o da Companhia Siderúrgica de Vitória (CSV), uma parceria entre a chinesa Baosteel e a Vale. Previa produzir 5 milhões de toneladas de placas de aço na região industrial de Ubu, em Anchieta (ES). O valor do investimento era da ordem de R$ 10 bilhões. A decisão de cancelamento foi tomada pelos sócios em janeiro, no auge da crise global. Na ocasião, Vale e Baosteel atribuíram a desistência do projeto também às dificuldades de atender as exigências ambientais colocadas pelo governo capixaba, que queria sua transferência para outro município.

Ontem, a Usiminas comunicou ao mercado a suspensão do projeto de construção de uma nova usina no município de Santana do Paraíso (MG), que estava orçado em cerca de R$ 12 bilhões. Só deverá ser retomado, segundo o conselho de administração da empresa, quando "os fundamentos do mercado confirmem a recuperação do crescimento sustentável da demanda". Os acionistas da siderúrgica, que tomaram a decisão em consenso, estavam ontem bastante aliviados, informou um de seus representantes. "Foi uma decisão prudente frente à crise", afirmou.

Para o professor de economia da Universidade Federal de Uberlândia, Germano Mendes de Paula, seria estranho se a Usiminas anunciasse que ia tocar o projeto em ritmo acelerado. "A medida é coerente com o cenário de incerteza e as formas como as siderúrgicas lidam com isso é distinta. Umas falam em suspender seus projetos, outras em adiá-los e outras que estão analisando". Para ele, não há clareza sobre o poder de sustentação da demanda por aço. "O pior já passou, mas o setor ainda está de ressaca". O economista não afasta, porém, a possibilidade de uma onda de fusões e aquisições no setor após a crise, o que pode adiar por mais algum tempo a retomada de novos projetos de investimentos.

A Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) também adiou sem data os planos de construção de duas usinas. Uma em Congonhas (MG), perto da sua mina de ferro Casa de Pedra e outra em Itaguaí (RJ). Os investimentos em cada uma eram estimados em R$ 12 bilhões, com capacidade em torno de 5 milhões de toneladas em cada projeto.

O grupo Gerdau também trabalhava com a perspectiva de instalação de mais um alto-forno na controlada Açominas, de Ouro Branco (MG). O projeto alto-forno III programava a ampliação da capacidade 4,5 para 7 milhões de toneladas de aço bruto voltada para fabricação de aço longo e plano (placas).

Todo este processo de engavetamento de projetos levou o BNDES a reprogramar seu fluxo de desembolso para o setor. No ano passado, o banco trabalhava com perspectiva de liberar R$ 55 bilhões em projetos que sairiam do papel entre 2008 a 2011 e que acrescentariam mais 14 milhões de toneladas de aço no país às atuais 41 milhões de toneladas. Agora, o banco prevê desembolsar R$ 32 bilhões entre 2009 e 2012 para o setor, gerando adicional de produção no máximo de 10 milhões de toneladas.

O analista Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, avalia que no curto prazo a Usiminas agiu corretamente ao suspender a nova usina. "Certamente, eles vão recalcular todo o projeto, mas acho difícil que a Usiminas desista dele". Ferraz diz que as usinas de aço do país têm que tomar cuidado com esta história de que não vão mais fazer projetos de expansão e novas usinas porque o mercado está ruim. "Quando o mercado retomar, alguém vai fazer no lugar delas".

O BNDES acredita na retomada em breve de pelo menos três grandes projetos adiados, pois desenha um cenário de retomada do mercado de aço até 2015, quando avalia que o país terá que contar com uma capacidade instalada de pelo menos 65 milhões de toneladas de aço bruto, para não perder sua competitividade no exterior.

Se CSN e Usiminas não estiverem dispostas a retomar seus projetos, há outros, como o de Pecém, no Ceará, da Vale com a coreana Dongkuk, do qual o banco pode até participar se for necessário. A ideia é produzir em duas etapas 6 milhões de toneladas de placas. Há ainda o projeto da Vale em Marabá (PA), cuja pedra fundamental está prevista para ser lançada em agosto e ficar pronto até 2013.

Rafael Weber, da Geração Futuro, acredita que os projetos que têm a Vale como empreendedora dificilmente deixam de ir à frente, como é o caso da usina ThyssenKrupp, no Rio. "Ao aportar mais recursos e ampliar sua participação de 10% para 26,7%, a Vale reiterou sua intenção de dar continuidade ao projeto. Com sua visão de longo prazo a mineradora não trabalha para cancelar projetos", destacou.

A grande surpresa neste ambiente ainda nebuloso é a possível chegada da Wuhan, a terceira maior grupo de aço da China. Anunciou pretensão de fazer uma usina no terminal portuário do Açu, de Eike Batista.

Em nota, a Gerdau informou ontem que "não há projetos cancelados dentro dos já comunicados". Mas, segundo a empresa, o cronograma de implantação depende da evolução da demanda por aço nos respectivos mercados. "O plano de investimentos da Gerdau para os próximos cinco anos (2009 a 2013) é de US$ 3,6 bilhões e está sujeito à evolução das condições econômicas futuras", informou.

Entre os projetos anunciados pelo grupo antes do estouro da crise econômica em setembro de 2008 estava a ampliação da capacidade da Açominas de 4,5 milhões para 5 milhões de toneladas/ano de aço, além da instalação de um laminador de chapas grossas e de um laminador de perfis médios no mesmo local, aptos a fazer 870 mil e 650 mil toneladas, respectivamente, por ano. Todos deveriam entrar em operação em 2010.

Esse pacote da Açominas somava US$ 1 bilhão em investimentos, mas a crise esfriou os ânimos do grupo. Em dezembro, o alto-forno responsável por dois terços da produção da usina foi paralisado para reformas e só voltou a operar no início deste mês, "em razão da melhora gradual da demanda no mercado interno e mundial", segundo informou a Gerdau. Ao mesmo tempo, porém, o segundo alto-forno, com capacidade para 1,5 milhão de toneladas por ano, foi paralisado desde o dia 20 sem prazo pré-determinado par voltar a funcionar.

Os projetos incluíam ainda a construção de uma nova usina para a produção de vergalhões para a construção civil em Pernambuco, onde a Gerdau já tem a siderúrgica Açonorte, que faz 300 mil toneladas. Conforme anúncio em agosto de 2008, a nova usina custaria US$ 400 milhões para produzir 500 mil toneladas e ficaria pronta em 2011. Poderia, numa outra fase ser duplicada.